Em países pouco desenvolvidos as perdas se devem principalmente a limitações de ordem financeira, administrativa,
infra-estrutural ou técnica, e não entram propriamente na definição de desperdício, mas cabem na definição
geral perda alimentar.
Nos demais países principalmente se deve a fatores culturais ou comportamentais, e à deficiente coordenação
entre os agentes da cadeia de produção, distribuição e comercialização dos alimentos. O consumidor valoriza
o aspecto cosmético do produto, da fruta, da verdura, se ela está bonita, etc. Se ela está com uma manchinha,
ou feia, enrugada, ou se a cenoura não tem aquele tamanho ou formato exato, ela já não serve para o consumo.
Então, como o consumidor rejeita, o varejo acaba rejeitando, e o produtor nem colhe. Isso está mudando
na Europa e em alguns lugares dos Estados Unidos, mas, principalmente na Europa, existem campanhas públicas
para consumir alimentos que não são perfeitos, bonitos, mostrando que a qualidade nutricional está nessa
diversidade.
Anualmente são desperdiçados, 41 mil toneladas de alimentos no Brasil, segundo Viviane Romeiro, coordenadora
de Mudanças Climáticas do World Resources Institute (WRI) Brasil. Isso coloca o Brasil entre os dez países
que mais perdem e desperdiçam alimentos no mundo.
O Brasil está entre os dez principais países que mais perdem e desperdiçam alimento. Estamos falando da cadeia de perda e
de desperdício. Perda que tem a ver com a colheita, a pós-colheita, com a distribuição e o desperdício
que já vem no final da cadeia, que é no varejo, no supermercado e com o hábito do consumidor - Coordenadora
de Mudanças Climáticas do World Resources Institute (WRI), Viviane Romeiro
Segundo Gustavo Porpino, analista da Embrapa, doutorando pela FGV e pesquisador visitante do Cornell Food
and Brand Lab, avaliando o caso do Brasil, mostrou como a cultura tem um peso importante no conjunto
de causas e como há muito desperdício também entre as classes mais baixas
O País une fatores mais presentes em países pobres, tais como perdas no escoamento da safra devido a infraestrutura logística
inadequada, com características comportamentais de consumo mais alinhadas com os hábitos dos consumidores
de países ricos", concluindo que "a família brasileira típica gosta de fartura na despensa e na mesa.
Quando esse gosto pela abundância é combinado com a preferência pela comida fresquinha, temos um cenário
propício a gerar elevado desperdício. As sobras são vistas com preconceito, e isso alimenta o desperdício.
Muitas mulheres me disseram que a família não gosta de 'comida dormida' e que o arroz tem que ser sempre
fresquinho - Doutorando pela FGV e pesquisador visitante do Cornell Food and Brand Lab, Gustavo Porpino
Estudo da Embrapa, Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, identificou
que a preferência das famílias brasileiras pela abundância de comida aliada à aversão pelo consumo das
sobras das refeições gera desperdício de alimento e impacta negativamente nas tentativas de economizar
nos gastos com alimentação. A pesquisa, publicada na edição de maio do International Journal of Consumer
Studies, mostra que o hábito de comprar alimento em excesso e a conservação inapropriada são geradores
de desperdício de comida em populações de baixa renda.
A pesquisa, liderada pelo analista da Embrapa, Gustavo Porpino, envolveu 20 famílias de baixa renda da zona
Leste de São Paulo e fez parte de um projeto maior com coleta de dados também nos Estados Unidos. Porpino
e os coautores Juracy Parente, da FGV, e Brian Wansink, professor da Universidade de Cornell, mostram
evidências de que o desperdício de alimento também é um problema bastante presente em residências com
orçamento familiar restrito.
Alguns fatores que levam ao desperdício de alimento nas famílias brasileiras são culturais, como gostar de preparar e servir
comida em abundância e não desejar reaproveitar as sobras das refeições - Doutorando pela FGV e pesquisador
visitante do Cornell Food and Brand Lab, Gustavo Porpino
Uma tendência identificada na pesquisa é guardar sobras na geladeira, mas sem serem consumidas mais tarde.
Às vezes, é simplesmente um mecanismo para mitigar a culpa imediata associada com o desperdício de alimentos.
Até recentemente, associava-se o desperdício de alimentos a famílias com mais recursos. No entanto, os estudos
encontraram evidências, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, de que as famílias de baixa renda
também desperdiçam quantidade considerável de alimentos.